segunda-feira, 17 de março de 2008


A cor é a expressão de uma virtude escondida.
Certos pássaros são chamas.

Um jardineiro faz-me notar que é no Outono que vemos a verdadeira cor das árvores.
Na Primavera, a abundância de clorofila veste-as a todas com um libré verde.
Chegado Setembro, elas mostram-se cobertas das suas cores próprias, a bétula loira ou dourada, o bordo amarelo-laranja-vermelho, o carvalho cor de bronze e ferro.

As raízes enterradas no solo, os ramos protectores dos esquilos brincalhões, do ninho e da chilreada dos pássaros, a sombra dada aos animais e aos homens, a cabeça em pleno céu.
Haverá mais sábia e benéfica maneira de existir?
O teu corpo composto-três quartos de água, mais um punhado de minerais terrestres. É essa grande chama em ti de que desconheces a natureza.

E nos teus pulmões, sorvido e libertado sem cessar no teu tórax, o ar, esse belo estrangeiro sem quem não podes viver.

Marguerite Yourcenar
( Escrito num jardim - O Tempo Esse Grande Escultor)


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